Pesquisar este blog

A FILHA DE MARIA ANGU - ATO I - CENA XI

Cena XI
Bitu, Cardoso, Guilherme, Botelho, Chica Pitada, Gaivota, Teresa,Barnabé, depois Clarinha à janela

CARDOSO - Não é preciso tanta pressa. Temos tempo.
BARNABÉ - Mas olhem que minha noiva deve estar com cuidados! Ela ignora o motivo da demora do casamento, e a estas horas supõe talvez - coitadinha! - que algum obstáculo mais importante nos prive da ventura de pertencer um ao outro!
BITU - Se é só isso o que receia...
BOTELHO - Ainda o Nhonhô Bitu!
BITU - Eu estava aqui à espera de todos vocês.
TODOS - Ah!
GUILHERME - À nossa espera!
BITU - Aí vai tudo em duas palavras: casando-se aqui com o mestre barbeiro e sangrador, Clarinha sacrificava-se à gratidão que lhes deve.
BARNABÉ - Que diz ele?
CARDOSO - Cala a boca! (A Bitu.) Adiante!
CLARINHA (Aparecendo à janela, à parte.) - De que pretexto lembraria ele?
BITU - O que é verdade é que eu e Clarinha nos amamos!
CLARINHA (À parte.) - Que ouço!
BITU - Se até agora ocultei esta circunstância, é que estava pobre; mas hoje o negócio muda de figura.
CLARINHA (À parte.) - Hein?
TODOS - Explique-se...
BITU - Tenho cinco conto de réis!
TODOS - Cinco contos de réis!...
BITU - Portanto o que vocês podem fazer de melhor é dizer ao Barnabé que volte às suas navalhas e ao seu sabão, e aceitar-me em seu lugar.
BARNABÉ - Ah!
TODOS - Oh!...
GUILHERME - Então, que dizem vocês a isto?
CHICA -Digo é que tenho visto muito homem descarado, mas assim também, não!...
GAIVOTA - Mas, dado o caso que Clarinha goste de você...
BARNABÉ - Deixe-se disso!
GAIVOTA - É uma suposição.
TODOS - Sim... sim...
GAIVOTA - Quem é você? Donde vem? Para onde vai? Sabe dizê-lo?
BITU - Querem saber quem sou? Sou um homem! Donde venho? Da Corte, onde fui educado... Aonde vou? Aonde o destino e o meu cobre me levarem.
TERESA - E onde foi buscar esse dinheiro? Que cabras não tem...
BITU - Esse dinheiro? Arranjei-o com o Imparcial!
CHICA -Pois é esse papelucho que lhe dá cinco contos de réis?
TODOS - Ora!ora!ora!
CHICA - Então pensa que comemos araras?
BITU - Mas eu asseguro-lhes que...
CARDOSO - E quando assim fosse? Julga que vendemos nossa filha como você vendeu sua folha?
BITU - Mas eu já lhes disse que ela não gosta do Barnabé!
BARNABÉ - Isto revolta!
CARDOSO - Cala-te, que vamos pôr tudo em pratos limpos. Precisamos entender-nos com ela.
BOTELHO - Sim, está claro.
CARDOSO - E quanto a você, seu imparcial, fique na certeza de que, se ela o ama, damo-lhes cabo do canastro!
CLARINHA (À parte.) - Que ouço! (Deixa a janela.)
GUILHERME - E se ela não o ama, degolamo-lo! (Saem.)
BITU - ( Á parte.) - Estou metido em bons lençóis; enfim.
BARNABÉ (Voltando.) - Sim! se ela o ama.
BITU (Ameaçando.) - Ai mau! ai mau!...
BARNABÉ (Fugindo.) - Eu não!... Eu não!... (De longe.) ... dão-lhe cabo do canastro! (Sai)