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O CALIFA DA RUA SABAO - CENA VIII

CENA VIII

NATIVIDADE, CUSTÓDIO, depois SIMPLÍCIA e o primo alferes

ALFERES (Dentro.) -- A casa é bem boa!
SIMPLÍCIA (Dentro.) -- Construção muito sólida!
NATIVIDADE (Que subiu, olhando para o fundo.) -- Céus!Minha
mulher!
CUSTÓDIO -- A patroa!
NATIVIDADE -- Com o primo alferes.
CUSTÓDIO -- Vão ver-nos vestidos de turcos! Onde nos devemos
meter?
NATIVIDADE -- Prudência! Estas vestimentas podem salvar-nos!
(Fazendo Custódiosentar-se à turca no divã da esquerda.)--Senta-teaí...

cruza as pernas...fuma neste cachimbo!(Dá-lheumgrandecachimboturco,
que vai tirar do cabide)
CUSTÓDIO -- Mas eu não fumo. O tabaco faz-me mal!...
NATIVIDADE -- Tanto melhor! (Sentando-se num coxim, do outro
lado.) E eu aqui... e bico! (Cruza as pernas e acende um cachimbo.
Simplícia aparece ao fundo, seguida pelo primo alferes, que está fardado.)

Quarteto

SIMPLÍCIA -- Olé? dois turcos! dois!
ALFERES --Dois turcos, é verdade!
SIMPLÍCIA -- Isto pra mim é novidade!
Eu não sabia que os meus inquilinos
Fossem turcos!
ALFERES -- São turcos genuínos!

[Juntos]

SIMPLÍCIA e ALFERES CUSTÓDIO e NATIVIDADE
Oh! que tipos Para ver-me
Que tipões, Nos sertões,
Me parecem Dava agora
Dois sultões (Bis.) Dez tostões. (Bis.)

SIMPLÍCIA (Aproxima-se.) -- Sou sua senhoria!
NATIVIDADE (Falando.) -- Mamamut, mamamut, mamamut!
ALFERES -- Jesus! Que algaravia.
NATIVIDADE -- Trombuctu, trombuctu. (Bis.)
SIMPLÍCIA -- Não sabem português.
ALFERES -- Talvez saibam francês...
Elle est la propriétaire.
CUSTÓDIO -- Mmamut, mamamut, mamamut,
mamamut.
SIMPLÍCIA -- Nous ne pouvons rien faire!
CUSTÓDIO -- Tombuctu, tombuctu, tombuctu,
tombuctu!
ALFERES -- Não sabem o francês.
SIMPLÍCIA -- Inglês sabem talvez.
I am the proprietary.
NATIVIDADE -- Mamamut, mamamut, mamamut!
ALFERES -- Não sabe o que é proprietary!
CUSTÓDIO e NATIVIDADE -- Tombuctu, tombuctu, tombuctu!

TODOS -- Mamamut!
Tombuctu!

SIMPLÍCIA e ALFERES CUSTÓDIO e NATIVIDADE
Mamamut, tombuctu, É língua de zulu,
Mamamut, tombuctu, Mamamut, tombuctu;
Mamamut, tombuctu, É língua de zulu,
Tom, tom, tom, tombuctu! É língua de zulu!

ALFERES -- Não sabem português... podemos falar sem receio.
Prima Simplícia,eu continuo a amá-la com todas as forças de minha alma!
CUSTÓDIO e NATIVIDADE -- Hein?
ALFERES e SIMPLÍCIA (Voltando-se.) -- O que é?
NATIVIDADE -- Mamamut!
CUSTÓDIO -- Tombuctu!
ALFERES -- Lembra-se daquela vez... seu marido estava na
Europa... em que jantamos juntos no Bragança, em tête-à-tête... num
gabinete que dava para a Rua do Cano?
SIMPLÍCIA -- Cale-se.
NATIVIDADE (À parte.) -- E esta?
ALFERES -- À sobremesa, a prima Simplícia sempre vigorosa, não
me quis atender; pôs a capa e o chapéu e...
SIMPLÍCIA -- Tinha-me esquecido de fechar as gavetas, e nãome
fio em criados.
NATIVIDADE (À parte.) -- Felizmente.
ALFERES -- Para a outra vez não se esqueça de fechar as gavetas
sim, prima Simplícia?
SIMPLÍCIA -- Cale-se!
ALFERES -- Outro cálice! A prima Simplícia está hoje inesgotável!
(Beija-lhe a mão.)
NATIVIDADE -- Mamamut! Mamamut!
CUSTÓDIO -- Tombuctu! Tombuctu!
SIMPLÍCIA -- Que tipos, vamos ver o resto da casa.
ALFERES -- Às suas ordens, prima Simplícia. (Dirigindo-se à
porta da direita.) Uma alcova.. Oh!...
SIMPLÍCIA -- O que foi?
ALFERES (Disfarçando.) -- Nada! Apertei o dedo na porta! (À
parte.) Uma odalisca! Um harém ali dentro!
SIMPLÍCIA (Que tem pegado na bengala de Natividade, dá-lhecom
ela.) --Ah!
ALFERES -- O que é?
SLMPLÍCIA -- Nada! (À parte.) Dir-se-ia a bengala de meu marido!
Hei de cá voltar...

ALFERES (À parte.) -- Vou e volto!
SIMPLÍCIA -- Vamos, primo alres?
ALFERES -- Às suas ordens, prima Simplícia. (Saem.)