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O CALIFA DA RUA SABAO - CENA I

CENA I

CUSTÓDIO

(Só, sentado no divã, de chapéu na cabeça e com as mãosapoiadas
num grande guarda-chuva.)

[CUSTÓDIO] -- Não sei o que pensar de tudo isto! Ainda ontem era
eu guarda-livros em casa do Senhor Natividade, à Rua da Alfândega...
quando o patrão que, na véspera, chegara da Turquia, onde tinha ido buscar
um bonito sortimento de artigos turcos, pôs-me no olho da rua, pelo
simples fato de eu ter deixado cair do nariz no varão, um pequeno pingo de
tabaco. (Erguendo-se.) O Senhor Natividade devia lembrar-lhe que há
dezessete anos sou guarda-livros e é o primeiro pingodetabacoquemecai
na escrituração. Verdade seja que há apenas um mês que eu gasto. Não me
quis atender o bárbaro! E disse-me com um gesto de Grão-turco: -- Saia,
Senhor Custódio, saia! Tomei então o meu guarda-chuva e o bonde, e fui
para casa desconsolado e murcho! Mas ontem à noite, recebi do meu ex-
patrão este misterioso bilhete: (Lendo.) "Custódio, esteja amanhã às nove
horas da manhã, no quarto andar da casa da Rua do Sabão, número tal. O
primeiro que chegar espere pelo outro. Mistério! Mistério!! Mis tério!! !"
Repito, não sei o que pensar de tudo isto! Aqui estou no quarto andar,
fazendo quarto, e como são nove horas e um quarto, e o ex-patrão não
aparece, vou pôr os quartos na rua. (Dispõe-se a sair, quando Natividade
entra misteriosamente pelo fundo.)